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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Espetáculo


Eu vi o prédio alto, cinza, cheio de janelas abertas com as pessoas debruçadas olhando para cima, uma pequena multidão aglomerou-se ao pé do edifício, reunida como se um espetáculo estivesse acontecendo no último andar daquele arranha-céu. 
 Aproximando da multidão, resolvi olhar para cima e conferir se o espetáculo valia toda aquela atenção. Depois de me acostumar com a iluminação aguda daquele sol de  meio dia de uma segunda feira, eu te vi. Você estava com aquele vestido bege que adorava, ele voava contra o vento abafado que rolava no teto, no topo que agora era o chão em que você pisava. Não sei bem qual foi a reação que tive, mas naquele momento, olhando para você eu senti medo, senti dor, quis voar e agarrar você pra que não cometesse aquele literal suicídio. Mas eu não poderia, mesmo que quisesse, chegar a tempo de segurar você. Então eu gritei. Gritei seu nome como se estivesse em outra dimensão. Gritei da forma mais alta que só a dor pode fazer uma pessoa gritar. Todos pararam. Olharam para aquela pessoa aos prantos que acabara de berrar. Você saiu do transe em que estava, provavelmente ditando suas palavras de despedida. Olhou para baixo. Seus lábios diziam em um som que eu não pude escutar "não posso parar, não agora". Diante daquele egoísmo todo, eu não sabia o que poderia fazer pra impedir você de retirar aquilo que eu mais amava, sua existência. Vi um de seus pés levantarem, vi você se inclinar... "se não puder parar por você, porque se ama, pare por mim, pare porque eu te amo. Se você não puder estar aqui, eu não vou querer estar também, e alguém não vai querer estar se eu não estiver. Não comece com o efeito dominó que é a morte". Não sei se você pôde me ouvir. Você ficou cada vez mais perto. Até que ficou tão perto, que se tornou inalcançável. 

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